Ao Meu Redor

15 setembro 2005

Simulacro

Nos últimos dias, com essa história de referendo sobre a comercialização de armas, estou me sentindo numa verdadeira Democracia. Acho que deveríamos ter mais dessas votações para que a o povo brasileiro pudesse decidir sobre questões importantes como essa. Tudo bem, eu sei. Os candidatos por nós escolhidos deveriam representar nossos interesses nos congressos e câmaras da vida. Porém, temos a plena consciência de isso não ocorre. A maioria deles, durante a campanha, diz que pensa de certa forma por saber que falando assim conseguirá maior número de votos, mas, depois de eleitos, eles vetam e aprovam leis de acordo com seus interesses, que nem sempre são os mesmos proferidos na campanha, vide o mensalão. Sei também que uma constância dessas votações causaria um gasto muito grande de verba pública, no entanto, apesar disso, continuo achando que deveríamos ter mais desses referendos. Toda essa história me fez lembrar de uma votação que teve há alguns anos (não sei exatamente quanto tempo faz, mas acho que ainda não tinha idade para ir às urnas, enfim...). Era um referendo para escolher o regime governamental do Brasil. As opções: continuaríamos uma Democracia, voltaríamos a ser uma Monarquia ou trocaríamos para o Parlamentarismo. Recordo perfeitamente que, nas “propagandas eleitorais”, um dos grupos opostos a Monarquia utilizava o argumento de que se o regime voltasse, a escravidão também voltaria. Patético! Como se o sistema de trabalho fosse inerente ao regime monárquico.

10 setembro 2005

No túnel do tempo

Depois da Festa do Colorido, a invenção do momento foi a Festa Proc. Versão menos abastada da Festa Ploc, a comemoração reuniu as mais variadas personalidades dos anos 80. Princesa Sarah, Rico Riquinho, Sinhozinho Malta, viúva Porcina, Hong Kong Fu e Formiga Atômica, entre outros estiveram presentes com o objetivo de relembrar a década e festejar os vinte e cinco anos de nosso amigo Arony, que, aparentemente, passou ileso pelos vinte quatro (digo aparentemente, pois anda com uns lampejos metrosexuais em decorrência de certas companhias)... Mas, voltando à festa, tudo correu muito bem. Com música e comida “típicas”, o ambiente estava perfeito para a viagem no tempo. O problema é que, em duas semanas, essa é a segunda vez que desfilamos pelas ruas insulanas vestidos pateticamente. É melhor essas festas temáticas pararem por aqui, se não, na próxima empreitada, seremos levados para o manicômio.

09 setembro 2005

Embalagens

As pessoas podem até negar, mas a verdade é que a aparência e as roupas são muito consideradas na hora de avaliarmos aqueles a nossa volta. Sempre fui radicalmente contra essa atitude, valorizando o interior dos indivíduos que me circundam. Hoje tenho uma posição mais branda sobre o assunto, não que tenha passado a olhar apenas as vestimentas das pessoas, esquecendo seu caráter e intenções, contudo, o tempo me fez perceber que, às vezes, uma mudança de estilo momentânea se faz necessária. Apesar dessa nova forma de encarar o assunto, em determinados momentos a reação de algumas pessoas me surpreende. Hoje foi um dia desses. Sexta à noite, hora de descontrair, de estar vestido como gostamos e não como o trabalho exigi. Sigo para o shopping com três amigos, dentre eles, um casal de namorados, que por virem direto da labuta estavam vestidos socialmente. Em certo momento, nos separamos, meninas para um lado e meninos para o outro. Quando eu e minha amiga estávamos próximas ao Mc Donalds. Percebo um ser nos olhando abismado. No mínimo, estava pensando: “O que essa patricinha de blusinha rosa, sapato rosa e bolsa rosa (minha amiga) está fazendo com esse projeto de punk (eu, de tênis surrado, calça jeans totalmente larga, blusa preta e blusão quadriculado jogado por cima)?”... Passado alguns instantes, sem que a criatura tirasse os olhos de nós, o quarteto se refez com os meninos chegando ao Mc Donalds. O contentamento do ser era latente, afinal tudo estava explicado. A patricinha namorava o almofadinha de casaco no pescoço e o projeto de punk namorava o cabeludo (meu amigo, que estava em seu melhor estilo roqueiro, All Star, calça e jaqueta jeans). Esse mundo de aparências...

07 setembro 2005

Cine Privê

Que a memória do ser humano é seletiva eu já sabia, mas estou chegando a conclusão que a nossa mente, pelo menos a minha, só armazena os dados menos importantes. A maioria já deve ter visto o filme “O nome da rosa”, inspirado na novela de Umberto Eco. Se não teve a oportunidade de assistir, provavelmente leu o livro ou, no mínimo, ouviu falar. Pois bem, em meio a uma misteriosa morte de monges, ocorrida em um mosteiro do século XIII (acho que é essa a época, olha a memória seletiva atuando novamente), uma série de discussões interessantes e importantes são travadas, como, por exemplo, um debate entre os Franciscanos e os representantes do Papa acerca da pobreza de Cristo e do despojamento de riquezas por parte da Igreja Católica. A primeira vez que assisti a esse filme foi na oitava série, há nove anos, e hoje fui compelida a vê-lo outra vez, pois meu namorado precisava fazer um trabalho para a faculdade. Tenho que admitir que a minha memória, além de seletiva, é muito ruim para filmes, geralmente, dois dias depois de assisti-los, eu não consigo mais contar a história linearmente. Dentro desse quadro, esperava não lembrar de cena alguma da narrativa de Umberto Eco, afinal são nove anos. Mas, para a minha surpresa, eis que no meio do filme, me pronuncio: “Agora o Adso vai pegar a camponesa”. Como assim? Imersa em discussões filosóficas e históricas eu apenas lembro que o narrador da história come a personagem que originou o título da narrativa... Definitivamente, eu era muito pornográfica aos quatorze anos.

04 setembro 2005

Um cão guia, por favor.

Sou totalmente contra aquelas frases machistas que tentam tirar a credibilidade da mulher em determinadas tarefas, como, por exemplo, a velha afirmativa de que não servimos para dirigir. No entanto, preciso dar meu braço a torcer, a teoria de que as mulheres não têm senso de localização é perfeita para mim. Se bobear, sou capaz de me perder dentro de um apartamento com apenas um quarto... Andar de metrô, então, é quase uma viagem a um país totalmente desconhecido. Sempre preciso perguntar a algum funcionário que sentido devo pegar, isso porque o metrô carioca só tem dois sentidos... Hoje, no auge da minha falta de senso, mesmo após ser informada que deveria ir para o sentido da zona norte, consegui descer para o lado errado... Felizmente, não embarquei no metrô e, quando percebi a burrada, procurei um guardinha que me indicou como fazer para chegar a outra plataforma. Quem tem boca vai a Roma, ou melhor, ao Shopping Nova América.

03 setembro 2005

Sucursal do inferno

Quando era criança falava para o meu pai que nunca iria trabalhar no centro da cidade e ele sempre respondia: “Se você não trabalhar no centro, vai trabalhar onde?”... Primeira verdade: existiam outros lugares para trabalhar, mas não segundo a visão do meu pai. Segunda verdade: eu sempre detestei o centro por considerá-lo um lugar sujo, feio, tumultuado, quente, confuso... Nesses quatro anos de profissão só precisei passar três meses nessa sucursal do inferno e sobrevivi. Se, por questões profissionais, tivesse que voltar para lá, iria sem problemas, mas, enquanto puder, uso todas as minhas forças para evitar o contato com esse local dantesco. Hoje, depois de muito tempo, estive no Saara (mercadão localizado bem no centrão do Rio ). Acho que a última vez que andei por aquelas ruas lotadas, ainda era uma criança (provavelmente arrastada pela mão do meu pai). Terceira verdade: começo a aceitar melhor o centro da cidade. A possibilidade de encontrar de tudo no mesmo local me deixa, digamos, extasiada... Mas definitivamente, ainda não amo o centro como algumas pessoas que conheço. Se pudesse morar numa fazenda seria bem feliz, quarta verdade.