Sono maldito
O mau-humor é um péssimo aliado do jornalista... Hoje sai de casa com tanto sono, que se um vulcão surgisse no meio da Ilha do Governador não ia dar a mínima atenção. Cheguei ao ponto de ônibus e estava recitando um mantra para o 634 não demorar, quando fui interrompida por uma senhora, de seus cinqüenta e poucos anos, ela sentou-se ao meu lado e disse: “Esse ônibus para Vilar dos Telles demora tanto e ainda passa por fora”... No meu mau-humor respondi secamente: “É...”, enquanto pensava: “Papo de velho, não. Papo de velho é tudo o que eu não quero agora”. A senhora prosseguiu: “Isso é assim, porque eles têm o dinheiro certinho, garantido, se eles ganhassem por passageiro ia ser diferente”... Nesse momento minhas orelhas chegaram a levantar, feito um cão pastor que fareja sua caça, mas o sono era superior ao senso jornalístico e, por isso, minha curiosidade foi vencida pela resistência ao papo de velho. Tudo bem, podia ser apenas uma história sem nexo de uma vovó revoltada, mas o fato é que, no mínimo, perdi a chance de escutar um boato intrigante. Desde quando as empresas de ônibus não ganham por passageiro? Talvez, se investigado, esse simples desabafo pudesse se tornar uma boa história. Da próxima vez, prometo prestar mais atenção e investigar melhor os indícios. Acho que vou fazer um curso intensivo com aquele corretor... Jú, você ainda tem os telefones dele?