Bregas por demais
A cliente (C) espera tranqüilamente, quando um daqueles papa-filas (P) a aborda:
P: - Qual o seu pedido?
C: - Uma promoção do Big Bob grande, por favor...
P: - Média?
C: - Não, grande!
P: - Você está querendo dizer média.
C: - Não é grande mesmo.
P: - É para você?
C: - Sim...
P: - Minha nossa, tá com fominha, hein?
Após um riso contido, a cliente aguarda seu pedido no balcão, até que a atendente (A) coloca o sanduíche sobre a bandeja e o caixa (C), imediatamente, observa:
C: - A promoção é grande!
A: - Não, é média, responde a mocinha olhando a cliente de cima a baixo.
C: - Não, é grande.
Sacando a notinha fiscal, a atendente, revista mais uma vez a cliente com os olhos e finaliza a discussão: “É grande!”. Definitivamente, quem vê não acredita que possa caber tanta comida nesse corpinho tão pequeno. Preciso parar de comer assim.
Junte um grupo de amigos, alguns instrumentos de percussão, umas garrafas de refrigerante e uns quilos de carne. Qual o resultado? Muito barulho e boas risadas. Assim foi o domingo. Os meninos do futebol resolveram, finalmente, concretizar a tão planejada senzala (pagode com churrasco) e descobri que é difícil avaliar se eles são piores jogando ou tocando. No futebol, sempre tem alguém contundido, sem contar as cenas antológicas: gol de barriga, de bunda, “atletas” chutando um ao outro sem a bola estar envolvida na jogada e por aí vai. No pagode, ninguém conseguiu cantar uma música inteira; a letra já estava em outra canção, mas a melodia ainda era da anterior, sem considerar as músicas que não eram pagodes e mesmo assim foram cantadas nesse ritmo. Com certeza Bezerra da Silva e outros artistas já falecidos se retorceram no túmulo. Enfim, uma tarde muito divertida, mas barulhenta.
O problema era anunciado, qualquer um podia ver... Com essa história de bilhetagem eletrônica, as empresas de ônibus insulanas adotaram a prática de contar os passageiros na entrada da Ilha. Para aqueles que estão antes da catraca, o fiscal gira a roleta e os indivíduos são obrigados a passarem o resto da viagem ali, apertadinhos como gado. Hoje, em meio às discussões que sempre ocorrem, o fiscal rodou a catraca para um estudante de escola pública. O garoto, que devia ter uns oito anos, foi obrigado a pagar a passagem e desceu do ônibus chorando. Só que a mãe do estudante aguardava por ele no ponto e quando viu o filho em prantos, a confusão se fez. Chama a polícia, encosta o ônibus, os passageiros se revoltam por terem que esperar... Como a história terminou? Não sei, fui embora, antes que resolvessem levar todo mundo para a delegacia...
Seguindo a linha de post climáticos, hoje o tempo deu uma virada e a Tijuca foi alvo de uma ventania louca. Lá estava eu, no meio do vendaval, quando presenciei uma cena no melhor estilo Marilyn Monroe. Uma mulher, em frente ao Batalhão da Polícia do Exército, tentava desesperadamente impedir que a saia levantasse. Na platéia, os recrutas torciam para que a tentativa fosse em vão. Por isso eu não uso saia...
É impressionante como certas pessoas podem fazer bem a um indivíduo. Antes que alguém se levante achando que esse “fazer bem” está relacionado à paixão, amor, sexo ou qualquer coisa do gênero, esclareço logo, não é disso que estou falando. Convive durante um bom tempo da minha vida com esse fenômeno: se a criatura vai para um lugar, volta de um jeito. Quando vai para outro, retorna com um comportamento totalmente oposto. Acredito que essa mudança seja resultado do contato com pessoas felizes. Independente de serem parentes ou amigos, existem indivíduos tão de bem com a vida que contagiam todos ao seu redor. Eles são os responsáveis pelas alterações comportamentais das pessoas rabugentas. Pena que a mudança dura poucos dias...
Será que esse fenômeno está acontecendo em todos os bairros do Rio? Desde ontem venho notando que as árvores aqui da Ilha estão perdendo as folhas. Tá, tudo bem, eu sei que as coitadinhas têm mesmo que desfolhar, mas não no final do inverno, quase primavera... Esse é um ciclo que cabe ao outono. Acho que as estações estão se invertendo, no outono fez frio, no inverno as folhas caem, se continuarmos assim, em setembro as praias vão lotar... Definitivamente, o tempo está doidinho, doidinho.
Nos últimos dias venho pensando incessantemente na arte do foda-se (desculpem a palavra, mas ferre-se não tem o mesmo vigor). Ao contrário do que alguns pensam, acionar o botão do foda-se não significa ignorar o outro, abandonando a tudo e a todos. Na verdade, a ativação desse pequeno dispositivo implica em fazer a sua parte e deixar que o “vizinho” faça a dele. Ou seja, você continua ajudando o próximo, com uma diferença: não toma para si a responsabilidade de solucionar tudo. Talvez esse seja um meio termo entre o dark side e o ligth side... Meio termo muito saudável por sinal. Onde fica mesmo o botão do foda-se?
“Você disse que não sabe se não, mas também não tem certeza que sim (...)/ Só dizer sim ou não, mas você adora um se (...) / Mas fácil apreender japonês em braile, do que você decide se dá ou não.” Quem não conhece a famosa música cantada por Djavan? Porém não é especificamente sobre esse tipo de “escolha sexual” que vou falar. Meu assunto hoje são as decisões tomadas ao longo da vida. Existe uma crônica, “Versões de mim”, (perdoem-me, mas tenho péssima memória para associações e não consigo lembrar o escritor) que fala justamente sobre isso. O indivíduo entra num boteco, está meio triste com a vida e começa a imaginar o que teria lhe ocorrido se tivesse seguido a carreira de goleiro. De repente um outro homem interrompe seus pensamentos afirmando: “Caso seguisse na profissão, você teria tomado um gol na final e agora estaria na rua da amargura”. Ao olhar para o intrometido, o protagonista percebe que o rapaz é idêntico a ele (com a única diferença de ser um pouco mais envelhecido) e lhe pergunta: “Quem é você?”. “Eu sou você se tivesse tomado o frango”... Não satisfeito, continua o interrogatório: “Mas se eu agarrasse a bola?”. Manifesta-se, então, o garçom: “Teria se tornado o ídolo da torcida, sido contratado por um grande time. Só que na temporada seguinte um problema no joelho lhe tiraria do futebol para sempre e você acabaria trabalhando num bar”. Ainda inquieto, questiona: “E se...?”. Depois de inúmeras indagações, o indivíduo percebe que está cercado por várias versões dele próprio, espalhadas em cada ponto daquele pé-sujo e decide que é melhor ser ele mesmo. Acho que tenho andado assim. Como estaria agora se tivesse prestado vestibular para veterinária ou biologia? E se tivesse ido para as aulas de Serviço Social ao invés de abandonar o curso em detrimento do Jornalismo? Dúvidas, dúvidas, dúvidas... Alguém pode me emprestar um tigre para ver se eu cuido dele direitinho?
Mas enquanto alguns constroem argumentos aleatórios, outros desenvolvem oratórias brilhantes. Hoje mais uma vez pude assistir a uma palestra de Divaldo Perreira Franco, grande divulgador da Doutrina Espírita. Porém, não estou aqui para falar de religião (mesmo porque acho qualquer crença válida desde que leve o homem para o caminho do bem). O foco do post é a eloqüência desse senhor já para lá dos setenta anos. Ele tem a incrível capacidade de abrir a palestra com um assunto, fechar com outro totalmente distinto e no final todos os tópicos abordados conseguem se amarrar, não sendo nenhum raciocínio desperdiçado. Aqueles que foram hoje a concha acústica da Uerj, puderam ouvir uma exposição que se iniciou com a vida de Jesus, passou pela reencarnação e foi encerrada com as maneiras de viver bem no mundo contemporâneo. Descrevendo dessa forma parece um raciocínio simples, no entanto, o modo como a história inicial é contada não te leva a imaginar o rumo da palestra. Só mesmo ouvindo para entender.
Depois das festas juninas, agosto é a temporada dos calouros. Nas redondezas de qualquer universidade é impossível não cruzar com uma dessas sorridentes criaturas. Atracadas com seus copinhos, elas lançam mão de todos os argumentos para convencê-lo a doar algumas moedinhas. Hoje, ao sair do trabalho, fui alvo de uma dessas “afirmações-pedido”. Enquanto o pequeno ser pulava na minha frente, aproveitou para garantir: “Você ainda vai passar por isso”. Ah, como assim? Ainda vou passar por isso. Numa mistura de espanto e indignação, fui obrigada a explicar: “Não mesmo. Eu já terminei a faculdade”. Um pouco sem graça, a criatura sorridente tentou remediar a situação dizendo que eu me formei cedo, etc e tal... Mas aqueles que me conhecem vão reconhecer, o verdadeiro motivo desse argumento é a minha carinha de dezessete anos...
Apesar de viver um estranho momento consumista, meu bolso saiu quase intacto da Febre de Shopping, pelo menos o bolso que guardava o dinheiro. O passeio pelo Nova América resultou apenas em uma jaqueta (R$ 29,90) e uma capinha para meu celular (R$ 10,00), que convenhamos já estava praticamente pelado. Feliz e contente com minhas pequenas aquisições, o domingo acabou na festa junina do Village. Ao chegar em casa, o ego consumista gritou mais uma vez e fui dar uma olhadinha na jaqueta. O objetivo era dormir com aquela sensação de boa, bonita e barata, mas a idéia foi pelo ralo. Quando tentei abrir um dos bolsos, notei que o botão estava com defeito. Putz, já era. Podia até ligar para a loja, porém, com certeza iria ouvir um dane-se em forma de delicada desculpa: “Infelizmente, não trocamos peças em liquidação”. Hoje de manhã peguei o telefone e me preparei para tomar aquele não, mas pasmem, minhas expectativas foram totalmente contrariadas. Do outro lado da linha, atendeu uma simpática senhora que informou: “Não tem problema. Traz aqui que nós trocamos para você. Se não tiver mais desse modelo na loja, nós mandamos para a fábrica e eles colocam o botão”. Não podia crer no que estava ouvindo... E até melhor não comemorar antes do apito final.